(act. 2 Dez 2012)
Se, com justiça, se diz que as janelas são os olhos de uma casa e a porta a sua boca, se se pretende que as casas sejam as várias caras com que uma cidade se apresenta aos seus transeuntes, então as paredes das casas serão reflexo dos cuidados que nelas põem os seus habitantes.
Santos e marcas de propriedade (selos, foreiras, brasões). Noutros países, até pinturas a óleo. Por cá, painéis de azulejo e estatuária de maior ou menor mérito.
Neste último caso, ganha especial relevância o "entalado" alfacinha.
Estava-se nos anos quarenta do século XX e a cidade crescia para lá da Alameda D. Afonso Henriques e do Instituto Superior Técnico, entre a Avenida Almirante Reis, a nascente, e a Avenida da República, a poente.
Uma disposição do Plano de Urbanização e Expansão da Cidade impunha que os novos edifícios que ultrapassassem determinado valor de construção ostentassem uma obra de arte na fachada, tanto mais cara quanto a imponência do edifício. Foi assim que muitos prédios passaram a ser decorados com elementos escultóricos nas fachadas, geralmente baixos-relevos. Tratando-se de prédios de rendimento, as fachadas eram quase totalmente ocupadas com janelas, deixando apenas algum espaço entre o piso térreo (de maior altura) e o segundo piso. Foi sobre o lintel da porta principal, no espaço entre a verga e a sacada de janela que lhe era sobranceira, que se apuseram estas esculturas, quase sempre figurativas.
Como o espaço era reduzido, as figuras em relevo (animais, homens e, as mais das vezes, mulheres) apresentavam-se reclinadas, transmitindo a sensação de não se poderem levantar.
Esta opção levou o arquitecto F. Keil do Amaral a abordar a situação com ironia, sugerindo a criação de uma “Associação Protectora de Lisboa e das Mulheres Entaladas entre as Portas e as Sacadas”. E a expressão ficou.
Embora a generalidade das peças não deva muito ao génio criativo, algumas há (como as de Leopoldo de Almeida, Soares Branco ou Estela de Albuquerque) com qualidade assinalável. E foi assim que, pelos anos cinquenta, os “entalados” passaram a figurar na paisagem desta nova Lisboa, então tão moderna quanto o permitia o provincianismo vigente.
Com especial relevância para os "entalados" alfacinhas, ficam aqui retratados os muitos e variados adereços de beleza que valorizam e enobrecem as nossas casas. Por imperativos de organização, as imagens aqui recolhidas estão mais ou menos "entaladas" consoante os desígnios do Arquitecto. Mas são todas dignas de estar aqui.
Para que a sistematização não se perca, arrumam-se as marcas de propriedade, os azulejos decorativos, os santos e os brasões noutros sítios. Quanto às portas e às janelas, ambas são raínhas das suas próprias páginas.
Santos e marcas de propriedade (selos, foreiras, brasões). Noutros países, até pinturas a óleo. Por cá, painéis de azulejo e estatuária de maior ou menor mérito.
Neste último caso, ganha especial relevância o "entalado" alfacinha.
Estava-se nos anos quarenta do século XX e a cidade crescia para lá da Alameda D. Afonso Henriques e do Instituto Superior Técnico, entre a Avenida Almirante Reis, a nascente, e a Avenida da República, a poente.
Uma disposição do Plano de Urbanização e Expansão da Cidade impunha que os novos edifícios que ultrapassassem determinado valor de construção ostentassem uma obra de arte na fachada, tanto mais cara quanto a imponência do edifício. Foi assim que muitos prédios passaram a ser decorados com elementos escultóricos nas fachadas, geralmente baixos-relevos. Tratando-se de prédios de rendimento, as fachadas eram quase totalmente ocupadas com janelas, deixando apenas algum espaço entre o piso térreo (de maior altura) e o segundo piso. Foi sobre o lintel da porta principal, no espaço entre a verga e a sacada de janela que lhe era sobranceira, que se apuseram estas esculturas, quase sempre figurativas.
Como o espaço era reduzido, as figuras em relevo (animais, homens e, as mais das vezes, mulheres) apresentavam-se reclinadas, transmitindo a sensação de não se poderem levantar.
Esta opção levou o arquitecto F. Keil do Amaral a abordar a situação com ironia, sugerindo a criação de uma “Associação Protectora de Lisboa e das Mulheres Entaladas entre as Portas e as Sacadas”. E a expressão ficou.
Embora a generalidade das peças não deva muito ao génio criativo, algumas há (como as de Leopoldo de Almeida, Soares Branco ou Estela de Albuquerque) com qualidade assinalável. E foi assim que, pelos anos cinquenta, os “entalados” passaram a figurar na paisagem desta nova Lisboa, então tão moderna quanto o permitia o provincianismo vigente.
Com especial relevância para os "entalados" alfacinhas, ficam aqui retratados os muitos e variados adereços de beleza que valorizam e enobrecem as nossas casas. Por imperativos de organização, as imagens aqui recolhidas estão mais ou menos "entaladas" consoante os desígnios do Arquitecto. Mas são todas dignas de estar aqui.
Para que a sistematização não se perca, arrumam-se as marcas de propriedade, os azulejos decorativos, os santos e os brasões noutros sítios. Quanto às portas e às janelas, ambas são raínhas das suas próprias páginas.
Rua Almeida Brandão // Rua Heliodoro Salgado
actual Museu do Oriente (montagem)
Casa da Moeda (alguém sabe porque vem o polícia logo a correr assim que se tira esta foto ?!?)
Largo de São Domingos, Palácio Regaleira (montagem)
Av. João Crisóstomo x Rua D. Filipa de Vilhena
Av. da República
Rua Rodrigues Sampaio
Largo de Andaluz
Rua Braancamp Freire x Av. Afonso III
Rua do Triângulo Vermelho
Escadinhas do Bairro América // Rua Heliodoro Salgado
Av. Guerra Junqueiro // Calçada dos Barbadinhos
Rua de São Sebastião da Pedreira // Alameda D. Afonso Henriques
Alameda D. Afonso Henriques (e que tal uma lavagenzita ?...)
Rua Vítor Bastos
Av. 5 de Outubro
Rua Andrade Corvo
Av. das Forças Armadas x Av. 5 de Outubro
Rua Conde de Redondo // Rua Rosa Araújo
Rua Cecílio de Sousa
Rua de São João Nepomuceno x Rua do Cabo // Rua de João Penha x Rua de São Filipe Néri
Rua do Cabo
Rua Conde das Antas
Rua de Santa Marta
Rua Rosa Araújo
Rua Eugénio dos Santos x Av. António Augusto de Aguiar
Rua Andrade Corvo
Travessa da Fábrica dos Pentes
Rua Rodrigo da Fonseca
Rua Rodrigo da Fonseca
Rua Rodrigo da Fonseca
Rua D. João V
Rua D. João V
Rua D. João V
Rua D. João V
Alameda D. Afonso Henriques // Rua Actor Joaquim de Almeida
Rua Carvalho Araújo
Av. Marconi
Rua Arnaldo Gama // Rua Fernando Pedroso
Av de Roma
Av de Roma
Av de Roma
Av de Roma
Calçada da Memória // Rua de São Marçal
Av. da República x Av. Visconde de Valmor (os meninos do karaté ??)
Av. da República // Campo Grande
Alguns painéis muito pouco "entalados", ...
...na esquina da Rua Rodrigues Sampaio com a Rua Alexandre Herculano.
Travessa do Abarracamento de Peniche
Travessa da Horta
Travessa do Pote d'Água (a necessitar de uma bela mangueirada...)
"entalado e espremido" na Rua da Emenda // "entalado à larga" na Rua da Conceição da Glória
"entalado e espremido" na Rua da Emenda // "entalado à larga" na Rua da Conceição da Glória
Rua de Santa Marta
Av. Sidónio Pais
Av. Sidónio Pais
Av. Sidónio Pais
Av. Sidónio Pais
Av. Sidónio Pais
Av. António Augusto de Aguiar
Av. António Augusto de Aguiar
Rua das Taipas
Av. de Roma
Av. da República // Largo do Leão
Rua António Enes (aut. Leopoldo de Almeida)
Rua Bernardim Ribeiro
Av. do Brasil
10 comments:
Mais uma excelente recolha! Parabéns pelo trabalho fantástico. Permita-me que lhe indique mais um "entalado", que fica no prédio da rua José Duro que faz esquina com a rua Maria Amália Vaz de Carvalho (Estádio 1º de Maio), no bairro de Alvalade, na figura de um pelicano no ninho com as suas crias (marca do Montepio).
Obrigado, caro TrekMan. Tenho de ir lá buscar esse...
Gostei muito do blog e percorri Lisboa à procura de entalados. No entanto não consegui encontrar o entalado da Rua da Escola Politécnica. Sabe o nº da porta?
Há um outro entalado muito bonito que não referiu, na Rua Frei Francisco Foreiro.
Cara Maria Teresa, obrigado pelas simpáticas palavras e pelo seu interesse.
O magnífico "entalado" da Rua da Escola Politécnica está (estava?) no 1º andar do nº43, encaixado entre a 1ª e 2ª portas de varanda à esquerda. A decoração desse prédio, assaz exotérica, acompanhava uma loja de antiguidades que aí existia. A minha foto é de Junho de 2009, mas nas imagens do Google Streetview datadas de Fevereiro de 2015 já lá não está. O mais certo é terem-no retirado.
Na Rua Frei Francisco Foreiro nº 2 está o bonito "entalado" que me refere. Tenho este e vários outros no baú, à espera de oportunidade para os publicar. Quando se começa a colecção parece que vamos completá-la com 1 ou 2 dúzias de imagens, e de repente já leva largas dezenas e continua a crescer... Ainda bem...
Cumprimentos, M.M.
Muita obrigada pela informação.
Há outro enlatado na Almirante Reis, entre a Alameda e o Areeiro, à direita de quem sobe, a meio.
Maria Teresa
Cara Maria Teresa, a Av. Almirante Reis é riquíssima de pormenores (e também a sua continuação pela Rua da Palma). Vale a pena olhar com mais atenção, filtrar o que não agrada e apreender o muito que esta artéria tem para oferecer.
Para além do entalado no #230 (a que se refere) e de um cimo-de-porta curiosíssimo no #98, há um pequeno entalado no #177 e dois idênticos (simétricos) a ladearem a porta do #231.
Cumprimentos, M.M.
Muito obrigada, irei procurá-los.
Cumprimentos
Maria Teresa
https://www.google.pt/maps/@38.717362,-9.1500963,3a,30y,203.3h,101.04t/data=!3m6!1e1!3m4!1ss8ipDzPsRFWRYid-PznUBw!2e0!7i13312!8i6656
Aí o tem, o "entalado" desaparecido. E do lado direito havia outro semelhante, que eu nunca fotografei.
Pelos vistos eram placas (de pedra? cerâmica?) penduradas na parede, que o dono da loja levou quando a fechou.
Obrigado pela partilha
Muito grato pelo nos tem revelado sobre Lisboa, se uma forma excelente.
Venho lembra-lhe que no quarteirão da Duque de Loulé, entre a Defensores de Chaves e a Av. da República (do lado do Café S. Remo) existe um lote significativo de "entalados", alguns de óptima qualidade, e que, na minha modesta opinião, merecem figurar na galeria.
Reiterando os meus agredecimentos, apresento os meus melhores cumprimentos.
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