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16.2.16

A Igreja mártir

A Igreja de São Domingos começou a ser construída em 1241 por ordem do rei D. Sancho II, como parte integrante do Convento de São Domingos. Este foi sucessivamente acrescentado por D. Afonso III e D. Manuel I.


Em 19 de abril de 1506, quando os fiéis rezavam pelo fim da seca e da peste que tomavam Portugal, alguém jurou ter visto no altar o rosto de Cristo iluminado, fenómeno logo interpretado como uma mensagem de misericórdia do Messias. Um cristão-novo (judeu convertido à força) que também participava na missa, tentou explicar que esse milagre era apenas o reflexo de uma luz, mas foi calado pela multidão que o espancou até a morte.

A partir daí, os judeus da cidade que anteriormente já eram vistos com desconfiança tornaram-se o bode expiatório da seca, da fome e da peste: sucederam-se três dias de massacre incitado por frades dominicanos que prometiam absolvição dos pecados para quem matasse os "hereges". Como consequência, homens, mulheres e crianças foram torturados, massacrados e queimados em fogueiras improvisadas no Rossio, mais precisamente junto ao largo de São Domingos. A matança durou três dias e só acabou quando foi morto por engano o escudeiro do rei, João Rodrigues Mascarenhas. Quando as tropas reais finalmente chegaram para restaurar a ordem, mais de 4000 judeus tinham sido perseguidos, torturados e mortos.


Este monstruoso e triste episódio, quase esquecido na História, parece ter estigmatizado para todo o sempre a Igreja de São Domingos.

No terramoto de 26 de Janeiro de 1531 foram enormes os danos causados na Igreja. As suas espessas paredes abriram fendas desde o teto até ao chão, chegando mesmo a ruir em alguns pontos. A sua reabertura só foi possível graças às esmolas dos fiéis, à Companhia de Jesus e ao patrocínio real. Conservaram-se as três naves e os seus ornamentos.

Adossada à velha Igreja de São Domingos ficava a ermida de Nossa Senhora da Escada, cuja construção datava dos princípios da monarquia. Era notável a sua riqueza em alfaias preciosas, incluindo uma imagem de prata maciça que saía em procissão num andor também de prata.

Tudo desapareceu em 1 de Novembro de 1755: pinturas dos altares, paramentos e tesouros. Salvou-se unicamente a sacristia e a capela-mor, construída 7 anos antes por João Frederico Ludovice a mando de D. João V.

Na sua reconstrução, o arquiteto Carlos Mardel tentou preservar ao máximo o estilo de Ludovice. O portal e a sacada que o encima vieram da destruída capela real do Palácio da Ribeira. A reabertura da Igreja ocorreu quase 1 século mais tarde, em 1834.





Sendo uma das mais vastas de Lisboa conseguia albergar mais de 2000 fiéis, tendo-se nela realizado todas as grandes cerimónias religiosas, desde baptizados e casamentos de grandes figuras nacionais e reais até exéquias de idêntica relevância.


Em 13 de agosto de 1959, um violento incêndio destruiu por completo a decoração interior da Igreja, que incluía altares em talha dourada, imagens valiosas e pinturas de Pedro Alexandrino.


Após mais 40 anos de obras, reabriu ao público sem esconder as marcas do incêndio. Ainda que destruída, com as colunas rachadas e os mármores queimados, é uma igreja que impressiona pela harmonia dos espaços e pela sua beleza pungente.




Nossa Senhora da Escada, aqui no Altar-Mor




Nossa Senhora da Escada, no seu altar habitual






















 Sacristia

1 comment:

Tais Luso de Carvalho said...

Postagem fantástica, gostei muito.
Parabéns!
Abraços!

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