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16.8.13

Caracol Alfacinha há só um...

... o Caracol da Graça e mais nenhum !!!
Eis senão quando...

Acabara o Caracol da Graça de ser aqui nomeado "o único Caracol de Lisboa".
Chega o Vítor (amigo Alfacinha que deseja manter-se incógnito) e declara: "Não é verdade, pois há mais dois: o Caracol do Carmo e o Caracol da Penha..."
 
Vejamos...
A Rua do Carmo começou por chamar-se Calçada de Paio de Novais. Com o Terramoto de 1755 e consequente alteração do traçado das ruas, nasceu a Rua (Nova) do Carmo. Ao fundo, no entroncamento com a actual Rua 1º de Dezembro, nascia uma serventia empinada e irregular em escadinhas, conhecida por Caracol do Carmo (vd. blogue Reflex).
Creio que, quem observa o Convento do Carmo a partir da entrada superior do Elevador de Santa Justa, ainda pode ver o início desse Caracol. Mas pronto. Desapareceu. R.I.P.

Quanto ao Caracol da Penha, já é outra conversa...
Por preguiça e falta de tempo, faz-se aqui uma súmula do que, a este propósito, está registado no excelente blogue Bic Laranja:

A Calçada da Penha de França (assim conhecida desde 1710), passou ao tempo do terramoto a ser designada por Caracol da Penha ou Travessa do Caracol da Penha.   Afirma Júlio de Castilho: "O Caracol da Penha em 1857 não era mais que uma estreita e pitoresca azinhaga, com foros de caminho de pé posto. Passar por aí de noite, só gente muito corajosa; quaisquer outros mortais seriam prontamente exterminados."
Em 1857 foi aprovada a expropriação de terrenos e o alargamento do Caracol, arrematando-se a obra da muralha "na estrada que trepa elegantemente aquela encosta a pino".   Logo em 1863, "do lado oeste mostra o monte a sua maior altura com muito íngreme declive, por onde dantes subia o escabroso e tortuoso Caracol da Penha de França, que ora vemos substituído por uma bela estrada macadamizada, em zig-zag, orlada de árvores e iluminada a gaz".


Aqui termina a história do Caracol da Penha. Isto porque, em 1891, após novas obras de alargamento, a rua muda de nome e passou, insipidamente, a chamar-se Rua Marques da Silva.
Muito bem. Mas porquê Marques da Silva ? (esta é a parte melhor...)




Luiz Pastor de Macedo ("Lisboa de Lés-a-Lés, vol. IV, 1968) explica em 4 páginas o que aqui muito se abrevia:
Este Marques da Silva não era o arquitecto Adolfo António Marques da Silva (um dos fundadores da Associação dos Arquitectos Portugueses), nem o padre António Marques da Silva (frade dominicano). A placa toponímica indicava "Rua Marques da Silva - 1844/1907 - Escritor". No entanto, não existiu nenhum escritor com esse nome...



Afinal, tratava-se de um lapso.
Pelo que consta das actas das sessões camarárias, "este" Marques da Silva não nasceu em 1844, nem faleceu em 1907, nem foi escritor... Na altura, João Marques da Silva era um comerciante que morava na Rua dos Anjos e era proprietário da Quinta da Imagem, ali ao Caracol da Penha, tendo oferecido uma fatia da Quinta à Câmara para alargamento da Travessa do Caracol da Penha...
E foi assim que, muito prosaicamente, João Marques da Silva viu o seu nome imortalizado numa Rua de Lisboa...



Quanto ao lapso na placa toponímica, também se explicou: o "outro" Marques da Silva seria o escritor Salvador Marques (que também tinha o apelido "da Silva"), nascido em 1844 e falecido em 1907. Mas Salvador Marques nunca foi conhecido por Marques da Silva...
Adiante...

Assim, a verdade é que o Caracol da Penha ainda lá está (embora com outro nome) e possui como principal relevância para este blogue o facto de alojar duas Vilas alfacinhas muito interessantes: a Vila Gomes e a Vila Janeira.

Obrigado, Amigo Vítor !!


Vila Gomes (à Rua Marques da Silva)

Uma típica Vila Operária, em muito bom estado.








Vila Janeira (à Rua Marques da Silva)

Ao contrário da Vila Gomes, a Vila Janeira evidencia uma génese muito mais popular. Porventura, era por causa de arruamentos destes que Júlio de Castilho dizia: "Passar pelo Caracol da Penha de noite, só gente muito corajosa; quaisquer outros mortais seriam prontamente exterminados."
O certo é que a Vila Janeira já lá está há mais de 140 anos.




Uma placa comemorativa da construção de um portão ??
Não. Traduzido em bom Português, o que aqui está escrito traduz-se por: "Quem invadir este espaço arrepende-se !!"





As "hortas".
Hora de almoço (uma e meia da tarde...)
 

4 comments:

Anonymous said...

Obrigado Amigo Mario
Vitor

Bic Laranja said...

Parabéns! Aventurou-se na Villa Janeira e sobreviveu.
Cumpts.

Mário Marzagão said...

Amigo Bic Laranja, quando já se levam 300 vilas e pátios de prática já se começam a saber alguns truques. Até estive por lá à conversa com um simpático morador...
Além disso, eu até sou nado (mas não criado) na Penha de França...
Bastante mais "letais" são outros sítios: Prazeres, Marvila...

Já agora... parabéns pelo seu excelente blogue !!

Cumprimentos,
Mário

Marta Borges said...

É sempre bom conhecer as traseira da minha casa, vila janeira! Obrigada pela excelente descrição e fotos da "minha" rua!

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